sexta-feira, 17 de junho de 2016

Ricardo Reis

Nascido em 19 de novembro de 1887, no Porto, Ricardo Reis tinha formação em medicina. Exilou-se no Brasil porque não concordava com a Proclamação da República Portuguesa. É uma face de Fernando Pessoa ligada ao clássico, à cultura greco-latina. Ricardo Reis valorizava a vida campestre e a simplicidade das coisas, mas ao contrário de Caeiro, ele não se sente feliz e integrado à natureza, sentindo-se fruto de uma sociedade decadente, que caminha para a destruição. Para Reis, o destino de todos já havia sido traçado e só restava aproveitar a vida ao máximo. Demonstra ser um autêntico epicurista, uma vez adepto das ideias de Epicuro (séc. III a.C), o qual ressaltava que a verdadeira sabedoria reside no equilíbrio dos sentidos e nos prazeres naturais, abnegados de “eventuais” excessos. Características demarcadas em: 


Anjos ou Deuses, sempre nós tivemos

Anjos ou deuses, sempre nós tivemos,
A visão perturbada de que acima
De nós e compelindo-nos
Agem outras presenças.
Como acima dos gados que há nos campos
O nosso esforço, que eles não compreendem,
Os coage e obriga
E eles não nos percebem,
Nossa vontade e o nosso pensamento
São as mãos pelas quais outros nos guiam
Para onde eles querem E nós não desejamos. 

 

As primeiras obras foram publicadas em 1924, na revista Athena, fundada por Fernando Pessoa. Mais tarde foram publicadas oito odes, entre 1927 e 1930, na revista Presença, de Coimbra. Os restantes poemas e prosas são de publicação póstuma.

Temas

Reis, também discípulo de Caeiro, admira a serenidade e a calma com que este encara a vida , por isso, inspirado pela clareza, pelo equilíbrio e ordem do seu espírito clássico greco-latino, procura atingir a paz e o equilíbrio sem sofrer, através da autodisciplina e das seguintes doutrinas gregas:


Epicurismo

Doutrina baseada num ideal de sabedoria que "busca a tranquilidade" da alma através das seguintes regras:

·  Temer a morte - Levando o poeta ao Fatalismo, tendo a morte como única certeza na vida.
·   Procurar os simples prazeres da vida em todos os sentidos, sem preocupações com o futuro (carpe diem), mas sem excessos - Deste modo aprende a viver cada instante como se fosse o último; e faz da vida simples campestre um ideal (aurea mediocritas);
·  Fugir à dor - Como defesa contra o sofrimento, sobrepõe a razão sobre a emoção;

 

Estoicismo

Doutrina que tem como ideal ético a "apatia" - ausência de envolvimento emocional excessivo que permite a liberdade – e que propõe as seguintes regras para alcançar a felicidade (relativa, pois não pretende um estado de alegria, mas sim de um contentamento inconsciente):
Dominar as paixões – Suscita uma atitude de indiferença; recusa o amor para evitar ter desilusões, de modo a que nada perturbe a serenidade e a razão, e porque esta é uma inutilidade e está já condenado, uma vez que tudo na vida tem um fim;
Aceitar a ordem universal das coisas, incluindo a morte - Revela a faceta conformista, considerando a vida como efémera, um fluir para a morte e essa consciência não lhe gera nem angústia nem revolta.
Porém, Reis "admite a limitação e a fatalidade desta condição humana", e pretende chegar à morte de mãos vazias de modo a não ter nada a perder; e inspirado na mitologia clássica, considera a vida como uma viagem cujo fluir e fim é inevitável e por este motivo Ricardo Reis é o poeta mais aristocrático de todos os tempos.

Algumas das obras do heterônimo Ricardo Reis

· A Abelha
· A Cada Qual
· Acima da verdade
· A flor que és
· Aguardo
· Aqui
· Aqui, dizeis
· Aqui, neste misérrimo desterro
· Ao Longe
· Aos Deuses
· Antes de Nós
· Anjos ou Deuses
· A palidez do dia
· Atrás não torna
· A Nada Imploram
· As Rosas
· Azuis os Montes
· Bocas Roxas
· Breve o Dia
· Cada Coisa
· Cada dia sem gozo não foi teu
· Cancioneiro
· Como
· Coroai-me
· Cuidas, índio
· Da Lâmpada
· Da Nossa Semelhança
· De Apolo
· De Novo Traz
· Deixemos, Lídia
· Dia Após Dia
· Do que Quero
· Do Ritual do Grau de Mestre do átrio na Ordem Templária de Portugal
· Domina ou Cala
· Eros e Psique
· Estás só. Ninguém o sabe
· Este seu escasso campo
· É tão suave
· Feliz Aquele
· Felizes
· Flores
· Frutos
· Gozo Sonhado
· Inglória
· Já Sobre a Fronte
· Lenta, Descansa
· Lídia
· Melhor Destino
· Mestre
· Meu Gesto
· Nada Fica
· Não Canto
· Não Consentem
· Não queiras
· Não quero, Cloe, teu amor, que oprime
· Não quero recordar nem conhecer-me
· Não Só Vinho
· Não só quem nos odeia ou nos inveja
· Não sei de quem recordo meu passado
· Não Sei se é Amor que tens
· Não Tenhas
· Nem da Erva
· Negue-me
· Ninguém a Outro Ama
· Ninguém, na vasta selva virgem
· No Breve Número
· No Ciclo Eterno
· No Magno Dia
· No mundo, Só comigo, me deixaram
· Nos Altos Ramos
· Nunca
· Ouvi contar que outrora
· Olho
· O que Sentimos
· Os Deuses e os Messias
· O Deus Pã
· Os Deuses
· O Ritmo Antigo
· O Mar Jaz
· O Sono é Bom
· O Rastro Breve
· Para os Deuses
· Para ser grande, sê inteiro: nada
· Pesa o Decreto
· Ponho na Altiva
· Pois que nada que dure, ou que, durando
· Prazer
· Prefiro Rosas
· Quanta Tristeza
· Quando, Lídia
· Quanto faças, supremamente faze
· Quem diz ao dia, dura! e à treva, acaba!
· Quer Pouco
· Quero dos Deuses
· Quero Ignorado
· Rasteja Mole
· Sábio
· Saudoso
· Segue o teu destino
· Se Recordo
· Severo Narro
· Sereno Aguarda
· Seguro Assento
· Sim
· Só o Ter
· Só Esta Liberdade
· Sofro, Lídia
· Solene Passa
· Se a Cada Coisa
· Sob a leve tutela
· Súbdito Inútil
· Tão cedo passa tudo quanto passa!
· Tão Cedo
· Tênue
· Temo, Lídia
· Tirem-me os Deuses
· Tudo que Cessa
· Tuas, Não Minhas
· Uma Após Uma
· Uns
· Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio
· Vivem em nós inúmeros
· Vive sem Horas
· Vossa Formosa  



Nenhum comentário:

Postar um comentário